domingo, 8 de dezembro de 2013

Se alguém tentasse fazer qualquer coisa falsa, ia ter que ir embora

A essa altura, já era mais ou menos meio-dia e dez, e por isso voltei para junto da porta, para esperar pela Phoebe. Pensei que aquela podia ser a última vez que eu ia vê-la. Ela ou qualquer dos meus parentes. Imaginei que provavelmente os veria outra vez, mas muitos anos depois. Poderia voltar para casa quando tivesse uns trinta e cinco anos - pensei - caso alguém ficasse doente e quisesse me ver antes de morrer, mas só assim eu deixaria a cabana e voltaria. Sabia que minha mãe ia ficar nervosa pra chuchu e ia começar a chorar e me pedir que ficasse em casa, que não voltasse para minha cabana, mas eu iria embora de qualquer maneira. Ia bancar o superior. Ia acalmar minha mãe e aí atravessaria a sala, tirava a cigarreira do bolso e acendia um cigarro - tudo isso com a maior calma. Diria a eles que me visitassem algum dia, se tivessem vontade, mas não ia insistir nem nada. Uma coisa eu ia fazer: Ia deixar que a Phoebe fosse me visitar no verão e nas férias da Páscoa e Natal. E deixaria o D.B. passar algum tempo comigo, se ele quisesse um lugar simpático e quieto para escrever. Só que não ia poder escrever nenhum filme na minha cabana, só contos e romances. Ia estabelecer essa regra, que ninguém poderia fazer nada de falso quando me visitasse. Se alguém tentasse fazer qualquer coisa falsa, ia ter que ir embora.

Trecho do livro: O apanhador no campo de centeio
Escrito por: J.D. Salinger


Daniela Silva

4 comentários:

Raphaela Barreto disse...

Lindo, vontade de ler este livro agr.

Beijos e ótimo restinho da semana.

http://sonhosdeumamadrugadadeinverno.blogspot.com

Unknown disse...

Eu nunca ouvi falar desse livro, na vibe que eu to nem sei se o leria, mas entendi a mensagem dele. Pelo menos desse trecho. Acho fundamental a gente cultivar um lugar onde só possa a verdade, nada de coisas falsas. Na verdade, a vida deveria ser toda assim, mas sabemos que não é. Sabe, você tava certa, a gente sempre volta, sente falta. E eu voltei.

Beijos.

Joice Novaes disse...

Sinto muita vontade de ler este livro desde que um amigo meu me falou sobre ele. E este trecho me deixou com mais vontade ainda!

Beijos ♥
http://mydreamsofasummernight.blogspot.com.br/

Érica Ferro disse...

Verdade. É dela que eu gosto. Por mais que ela seja dura, crua e nua em algumas vezes. Eu prefiro, sempre, a verdade.

Quero muito ler esse livro. É um clássico que eu quero muito degustar.

Um abraço!

Sacudindo Palavras